O Dia de Finados, dia 2 de novembro é o dia que
celebramos a passagem para a vida eterna de todos os falecidos porque
acreditamos que se encontram em comunhão intima com Deus. No catolicismo esta data
foi solenizada à partir do ano 998 dC,
por Santo Odílio, abade do mosteiro beneditino de Cluny na França, e trazido
para o Brasil pelos portugueses. Segundo algumas fontes, a provável origem
desta cerimônia remonta à da cultura celta que habitou o centro da Europa entre
o II e o I milênios a.C.
O
homem como ser mortal caracteriza-se por ter consciência de seu fim, o que não
acontece com os animais que não têm essa consciência. “Não nos iludamos, pois o que buscamos não é a vida eterna, e sim a
juventude eterna com seus prazeres, força, beleza e não a velhice com suas
perdas, feiuras e dores.” (Kovacs).
Em
cada cultura a morte é encarada de um modo: os ocidentais apresentam certa
dificuldade para encarar essa passagem enquanto, os orientais, mais
precisamente os budistas encaram a morte
como o momento de máxima consciência (Kovacs),
mas ao nascermos já estamos nos
preparando para cumprir um ciclo, pois o nosso período na terra é breve, uma
vez que não compartilhamos o mesmo tempo de uma estrela.
Psicologicamente
enfrentamos a “presença” da morte com alguns mecanismos como a negação,
repressão, intelectualização, deslocamento, que nos protegem da ansiedade e do
medo da morte. Esse medo é uma resposta universal que atinge a todos os
humanos, uma vez que pensar na morte, seja na própria morte, ou de outro, pode originar
sentimentos tais como: de ausência, ansiedade, medo, separação, abandono, a
consciência de seu próprio fim, e como ocorrerá. Pode estar acompanhado do medo
do sofrimento e da indignidade da desintegração, medo do julgamento e do
castigo divino, aliados a sensação de impotência.
Quantas
vezes partimos? Vivemos a custa de pequenas e sucessivas partidas, pequenas
mortes e outros pequenos nascimentos, são ciclos. A cada opção realizada,
vivemos para ela e morremos para as alternativas propostas. Exemplifico: algumas
pessoas optam por se casar então cessam para o estado de solteiros e devem
nascer para a vida de um amor adulto e comprometido; ou então a moça que
escolhe gestar, extingue-se a menina e desabrocha a mulher num amor com caráter
oblativo, o amor da mãe.
A
criança por sua vez, entende a morte como algo reversível, como a dos atores de
seus desenhos animados, mas aos poucos esse pensamento mágico, vai se
modificando ao entrar em contato com a concretude de acontecimentos diários e vai
elaborando seus pequenos lutos, como o de seu corpinho em transformação; o
amiguinho que mudou; o seu animalzinho “escapuliu”; ter que deixar seu lugar
para o novo bebê; sobreviver à separação do casal de pais que traz consigo a
angustia do desamparo. Permitir que a criança se expresse, que fale do que lhe
acontece pode favorecer na reorganização de seu espaço emocional em relação aos
pequenos pedaços que lhe foram tomados, e nesses passos segue para a adolescência,
quando a vida lhe revela a independência física, e a liberdade em roupagens
multicoloridas. Com a aquisição de conhecimentos, as mudanças corporais, os
pensamentos infantis do faz-de-conta sendo deixados de lado, o jovem desperta
desafiador rompendo barreiras, impetuoso ao experimentar novos prazeres, na
busca de ultrapassar os limites e configurar a nova identidade.
Experimentar
é a nova palavra de ordem, onde a onipotência não dá espaço para a morte, que
só pode acontecer para o outro e ele reconhece ser definitiva. Neste caminhar
ele conviveu com perda de amigos por overdose, acidentes, doenças, mas seu
pensamento é de que o outro foi incompetente, e que ele não vai morrer, o que
representa o desejo da imortalidade. Transposta a adolescência o adulto que
emerge, envolvido com as responsabilidades, menos afoito que o adolescente,
estabelece outras relações com a morte, mas continuando a mante-la distante,
embora comece a perceber que os seus limites físicos vão se configurando mais
expressivos, e a maturidade revela outras facetas da vida que vai se aproximando
de seu termo.
Por
fim, a velhice delineia concreta e claramente a nossa finitude, através das
perdas corporais, às vezes separação dos familiares, e outras tantas dores, mas
para que lado olhamos, para a vida ou para a morte, pois não só se morre por estar
velho, e só morre o que já viveu, onde vida e morte são companheiras inseparáveis,
e, como diz Kenko Urabe: “A hora da morte
não espera sua vez. Ela não vem necessariamente de frente, pode estar
planejando o seu ataque por trás. Todo mundo sabe da morte, mas ela chega
inesperadamente, quando as pessoas sentem que ainda têm tempo, que a morte não
é iminente.”.
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